Panteão Celta e simbolismo esotérico das Divindades Celtas
(traduzido de http://www.luxsanctuary.com/article,4,141,pantheon-celtique.php)

Menu

 

Introdução : Sobre a Confusão de Nomes…


A Mitologia Celta é tão rica em mitos quanto em  povoamentos que um dia recobriam toda a Europa... Falar dos Deuses Celtas é como tentar descrever uma nuvem, e muitos autores concordam mais ou menos sobre a dificuldade inerente a todos os estudos sobre Deuses Celtas porque estes são, por um lado, muito numerosos, e por outro lado, relativamente entremeados de um povoamento a outro. Com efeito, deve-se distinguir claramente entre os diferentes grupos de Celtas que, se adorassem os mesmos Deuses, chamavam-nos por nomes completamente diferentes, o que se torna uma fonte certa de confusão... Algumas obras irão falar de Nuada enquanto que outras falarão de Tutatis. Qual é a  diferença ? É muito simples : O nome do mesmo Deus muda: o primeiro, Nuada, é utilizado ainda pelos Celtas da Irlanda, enquanto que Toutatis é o nome dado pelos Celtas da Gália, e este mesmo Deus é chamado Tyr pelos nórdicos. Mas não é de todo justo dizer que estes são os mesmos Deuses, porque de um povo a outro, existem atributos que mudam. Este artigo não tem intenção de esclarecer, mas pelo menos fazer o que puder, apresentando aos leitores a complexidade, e não menos, da família de Deuses Celtas.


A Natureza dos Deuses

Antes de me lançar em um estudo mitológico, penso que seria melhor que, antes de tudo, relembrássemos alguns pontos importantes, para não nos perdermos na credulidade e discursos supersticiosos. Os Deuses são, como já foi mostrado de várias formas, os Rostos, as facetas da Natureza, do Universo; em verdade, para sermos mais abrangentes, eles personificam de alguma forma os elementos maiores do Universo, os Princípios Primordiais...
Se nós buscarmos por uma analogia mais ou menos clara de um povo a outro com respeito aos deuses de mesma equivalência, como é usual, (seja entre os Hindus, os Romanos ou mesmo os Egípcios), isto não é fruto do acaso, porque estes povos têm em comum a mesma origem, somente a evolução destes últimos com sua relação com o ambiente e seus vizinhos é que pode influenciar as divergências e fazer com que os povos se adaptem ás diversas condições locais ,por exemplo, está claro que o Deus Ull que personifica o inverno e o Esqui, para os nórdicos, (é verdade!!! Existe um deus do esqui, por mais estranho que possa parecer), não encontraria jamais um equivalente entre os egípcios, absolutamente acostumados aos climas quentes !
A aparição dos Deuses surge mais ou menos em resposta á suas necessidades, pois é mais simples, do ponto de vista esotérico, interagir de maneira mais sutil com o ambiente, assimilando em uma só a representação capaz de modular e canalizar nossas energias por meio de rituais e orações próprios. A existência dos Deuses corresponde também á uma necessidade de venerar de forma mais ou menos abstrata os elementos da natureza em seu estado bruto, como fazem, por exemplo, certos xamanismos (mesmo que isto seja mais complexo, já que o animismo dá espíritos aos elementos). Este e então, um meio simples de fazer passar idéias e pensamentos esotéricos mais ou menos complexos.
Qual o valor atual das Divindades ?
Este fato torna o trabalho com os Deuses obsoleto?
Não, porque seus atributos permanecem até hoje, e eles bem que existem, seus nomes se mantêm sob a idéia do princípio que desejamos chamar, invocar Lugh por exemplo torna-se invocar o poder da Luz e da Esfera Solar, invocar  Cernunnos (Kernunos) e Ceridwen (Karidven), torna-se invocar o poder da polaridade primordial. Os Deuses não se ligam ás coisas simples e comuns, mas á princípios imutáveis e fundamentais que são a emanação do Um e a personificação sutil de Forças universais e de grandes revelações espirituais...
De mais ,o iniciado saberá descobrir os Mistérios ocultos em cada um dos Deuses sob os tratos profanos que nós damos a eles. Tomo como exemplo Cernunnos, o equivalente de Dionisios, que não é o deus da embriaguez causada pelo álcool mas antes o deus da embriaguez espiritual, também o exemplo das Trindades Celtas e todos o simbolismo místico associado, encarnados por Deuses como Lugh ou Taranis...


Força egregórica


Acrescentemos assim aos Deuses o poder reforçado por uma verdadeira  Egrégora devida á séculos e séculos de venerações pelos povos Celtas, o que conduziu a um reforço considerável ao «espírito» destes.


O Keugant, o Gwenved e o Awen


Vejamos então os nossos Celtas. Nós devemos poder distinguir muitos casos para poder estudar os Deuses : por um lado os Deuses Gauleses, e por outro, os Deuses Irlandeses. Notemos que uma distinção clara é difícil por razões geográficas e culturais evidentes. Devemos constatar obrigatoriamente um fato constante nas tradições Celtas e também nas Nórdicas: A denominação do Keugant e do Gwenved. Estes últimos estão representados na Cruz Céltica (ver o artigo «Talismãs e Símbolos Celtas ») e respectivamente :


- O Keugant é a denominação do que chamamos o Incriado, em outras palavras a Fonte de todas as coisas, princípio primeiro motor primordial, o Um e a Uma que é Tudo e Um, e Um em Tudo, é um dos primeiros princípios do esoterismo que foi inúmeras vezes evocado. É de alguma forma o aspecto monoteísta do lado exotérico desta religião Celta mas que, na visão do iniciado, é uma Verdade Universal que encontramos em todas as religiões.

- O Gwenved é de difícil definição, também é um Princípio, mas representa de qualquer forma um Plano de existência que corresponderia ao Plano Divino ou Átmico  (ver o artigo sobre a Estrutura oculta do Mundo na Seção Espiritualidade). É o que chamamos o Mundo Branco, o lugar de Fusão última de todas as almas como Incriado, o Keugant, Princípio primeiro. É a Luz emanada da Luz, referindo-se á uma expressão Crística, lugar de infinitas Sabedoria e Paz.
-Com respeito ao Awen, ele é o equivalente do Aum dos Budistas (um mantra que religa à energia suprema e ao êxtase espiritual), o Amem dos Cristãos, o Amin dos Muçulmanos (pelo menos assim me parece!). É o mantra que conclui a maior parte das orações Celtas. É uma centelha Divina que nos coloca em vibração com as mais altas esferas, com o Gwenved.

A Encarnação do Princípio da Trindade na Cultura Celta


Nós já evocamos inúmeras vezes o Princípio da Trindade neste Site, que é uma lei universal conhecida em todas as religiões... Eu não retornarei de forma mais precisa esta explicação, que foi abordada no preâmbulo da seção Espiritualidade ( ver artigos « Esoterismo » e « História oculta do mundo »).


Lembramo-nos que a Trindade é uma tripartição da Fonte cuja finalidade é a experiência da existência, a afirmação da existência através da multiplicidade, se bem que o Todo forma uma  unicidade. Este princípio da Trindade se encontra em cada ser que é composto de um corpo físico, astral (espírito), e mental (alma). É o equivalente dos « Pai, Filho, e Espírito Santo» cristãos, de Frey Odin e Thor dos nórdicos, a Trimurti Hindu encarnada por Brahmá, a coesão, Shiva, a destruição (para melhor reconstruir) e Vishnu, a Criação; esta Trimurti participa então do equilíbrio do mundo e corresponde à suas forças primordiais: o Fogo - a criação, Água - a destruição, e Ar - a coesão, que corresponde ás ações elementais e ás polaridades positiva / negativa (não considere no sentido pejorativo, mas como um elemento de  equilíbrio, tal como encontramos nas cargas elétricas por exemplo) e neutro.


A Trindade dos Gauleses está Encarnada pelos Deuses Taranis, Tutatis e Esus. Lug, Dagda e Ogma formam a Trindade Irlandesa. Verificamos então que mais além das aparências banais e dos atributos dos Deuses, se esconde um verdadeiro mistério, encarnando os princípios primordiais comuns á todas as tradições quanto aos seus aspectos esotéricos, e não exotéricos

A dupla polaridade do Deus Cornudo e da Deusa em Avalon


As principais Divindades veneradas no santuário de Avalon eram o Deus Cornudo, conhecido também sob o nome de Cernunnos para a maioria dos povos Celtas, princípio masculino e Solar, o Senhor das Florestas, da Natureza e do êxtase espiritual, e a Deusa, princípio feminino Lunar conhecido pelo nome de Keridwen. Estas divindades simbolizam a dualidade primordial e a polaridade intrínseca ao universo.


Eram as sacerdotisas de Avalon sob a égide da Dama do Lago ou grande sacerdotisa, que veneravam um Culto à Deusa, enquanto que os Sacerdotes de Avalon ou druidas veneravam ao Deus Cornudo. Está claro que o culto de Avalon não divergia em nada daquele nos outros lugares de culto, eles veneravam também ás outras divindades e festejavam as mesmas festas do ciclo anual. Podemos fazer uma analogia de  Cernunnos e Ceridwen aos deuses Nórdicos Frey e Freya.

O Panteão Gaulês


Chegamos então ás descrições mitológicas da maioria dos Deuses enquanto Princípios e forças Primordiais que eles representam.


O Panteão gaulês apresenta uma certa complexidade, mas as analogias com o panteão irlandês são bem claras.


Logo de começo encontramos :

- Lugh, É um deus solar com função apolônica que corresponde a

- Belenos, Deus do fogo e da luz. do qual em alguma forma é um sinônimo.

- Belisama, a « Muito brilhante », é uma deusa da arte, do saber, da inteligência, da iluminação espiritual e também, de alguma forma, ela é semelhante à Palas Atena ou Minerva. É uma deusa Protetora.

 

- Esus é um outro Deus equivalente ao Dagda irlandês, e faz parte da Trindade Gaulesa com Taranis e Têtatés. Seu nome significa « o melhor ».


- Taranis é o deus gaulês do trovão, membro da Trindade, é um deus jupiteriano de alguma forma, que podemos facilmente associar ao deus nórdico Thor.


- Têutatés (ou Tutatis) é semelhante a Ogme e Nuada, deus do povo celta e membro da Trindade gaulesa. Notemos então que o Ogme irlandês encontra seu equivalente gaulês em Ogmios.


- Sukellos (significando literalmente « Bom Golpeador ») é um dos aspectos de Jupiter e de Dagda. Sukellos porta um martelo e tem a função de Deus infernal e deus da fertilidade.

 

- Epona (ou Rhiannon sob um outro aspecto), é a deusa do Cavalo. É uma deusa dos aspectos guerreiros.


- - Morigu é uma deusa propriamente marcial, bem mais próxima do aspecto marcial encarnado por Morrigane que Epona, que por causa do cavalo também é uma deusa das viagens.

Panteão Irlandes e Bretão (insular)

O primeiro dos Deuses é Lugh, sobrenome : Samildanach, o Deus supremo, o Luminoso, que representa o Sol e a Luz. Está associado ao símbolo Trino do Tribann, onde cada feixe corresponde a uma das três lanças de Lugh, cada lança, e portanto cada ramo do Tribann, porta um dos nomes de Lugh :


O primeiro, "o Luminoso", o segundo, "o Irradiante", e o último, o "Esclarecido". Lugh porta em si a Trindade e portanto também uma parte da Sombra, de onde se irradia a Luz, ela mesma se irradiando da Suprema Luz. Encontramos em Lugh o Triplo Aspecto do Deus Egípcio Solar : Rá-Amon-Athon, assimilável também à Trimurti Hindu (Amon o lado passivo, Aton o positivo, e Rá o equilíbrio, a coesão).


Lugh é visto como sendo o neto de Eriu, a Deusa mãe da terra da Irlanda. Lugh é um deus importante para todos os Celtas porque nós encontramos comprovadamente traços deste Deus na maior parte das tradições dos povos celtas continentais e Britânicos. A festa de Lugnasad em agosto é dedicada a ele, é uma festa solar onde se rende homenagem ao Sol. É também uma festa agrícola onde festejamos as Colheitas de verão. Ele por acaso deu seu nome a muitos Altos Lugares druídicos e Cidades, como Lugdunum (a « cidade de Lugh », literalmente) que é conhecida hoje em dia como Lyon no “département du Rhône” na França.


Dagda, sobrenome : Ollathair, é o segundo Deus mais importante, é o Deus-Druida e encarna assim todas as funções dos Druidas. É ao mesmo tempo um guerreiro um mágico e um músico, mestre das artes. Literalmente seu nome significa « o Deus Bom ». Ele se distingue par Três atributos maiores :


Seu cajado mágico, que por uma extremidade ressuscita os mortos que já estão em outro mundo e pela outra, dá a morte deste mundo físico. Seu cajado ao qual se atribui o poder dos raios, é associado á função jupiteriana do Deus.


O Segundo atributo é o Caldeirão de Dagda. É uma verdadeira cornucópia de abundância que contêm um alimento inesgotável e além disso, todos os que mergulham dentro são curados. Estes atributos fazem de Dagda um Deus da Vida e da Morte. Enfim, Dagda dispõe de uma harpa mágica, símbolo maior dos Bardos e da função musical, simbolicamente tão forte, que percebo por ela a criação do mundo pelo Verbo e a vibração sutil das esferas Astrais. Um de seus outros nomes é Eochaid, que significa «aquele que combate pelo Teixo », e dá testemunho de sua função às vezes sacerdotal e guerreira, já que o Teixo é uma árvore utilizada em adivinhação, além de ser uma árvore associada à morte, ou antes, á ligação entre o mundo dos « mortos » e o dos vivos; tem uma ligação à imagem da Runa Eoh, entre os dois mundos que como já vimos, é uma imagem associada a Dagda.


Nuada é o Deus Rei. Ele encarna as funções sociais de Rei, aquelas de soberania. Com efeito, é o Deus da Vitória e da Justiça. Ele simboliza o sacrifício e o sentido do dever, está próximo de Ogme (ou Ogma) que o completa, sendo este último, um Deus puramente marcial e guerreiro. Os dois juntos formam assim o equivalente completo de Marte, ou Tyr dos nórdicos. Nuada se distingue pelo seu braço de prata, prótese que substitui o braço perdido na batalha de Mac Tured. É uma característica que o aproxima absolutamente de Tyr, tendo este sacrificado sua mão para capturar o Lobo Fenris, cria de Loki.


Quanto a Ogme, é um deus guerreiro mas não tão somente: ele encarna também a eloqüência e o conhecimento. Seria semelhante a Héracles ou Hércules, Velho e Sábio. Ogme nesse sentido é considerado como o Deus criador dos Oghams, linguagem secreta tardia dos Celtas. Assemelha-se nesse sentido a Odin que recebe as Runas. É o irmão de Dagda.


Outros Deuses e Deusas à mencionar:


Dana ou Brigit, filha de Dagda, é a grande deusa da principal tribo irlandesa dos Thuata de Dannan, vista como a Deusa Mãe dos Celtas. Sua canonização imediata pelos cristãos na Irlanda testemunha a importância desta deusa no coração dos Irlandeses !


Diancecht, deus solar, não é um deus cuja função apolônica poderia ser partilhada com Lugh. Mesmo que de qualquer forma o aspecto de Lugh predomine, podemos antes relacionar Diancecht à Asclépios ou Esculápio, o filho de Apolo, que é o Deus da medicina, função que Diancecht assegura. É ele que enxerta em Nuada o braço protético de prata.


Manannan é o deus das viagens e de outro mundo localizado além dos mares. Nós atribuímos a ele uma relação próxima com este elemento. Consideramos que ele seja um avatar de Dagda. O Deus do Mar propriamente dito é Lir.


Morrigane é a deusa da guerra, ela reina sobre os campos de Batalha usando tanto os talentos marciais quanto os mágicos. Implacável, ela é a deusa dos Corvos, de múltiplas faces, que tanto aparece com a forma de uma mulher de beleza  estonteante e fria, como com a de uma velha. É um aspecto marcial e sombrio da soberania. Seu nome significa a « Grande Rainha ». Ela dispõe à maneira de Lugh, de uma tripla forma chamada Morrighna e que compreende as deusas Nemain, Bodb (querendo dizer « Gralha ») e Macha (significa a planície).

Por : Eldael